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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Desigualdade afeta saúde do negro - 23/11/2004

Karine Rodrigues
O Estado de São Paulo

20/11/04 - VIDA&
Estudo com 16 causas de morte no País mostra que em 14 a taxa entre negros é maior que a entre brancos
RIO - Estudo financiado pelo Ministério da Saúde, Banco Mundial e Ministério Britânico para o Desenvolvimento Internacional revela que o preconceito racial associado às desigualdades econômicas e sociais interferem significativamente na saúde da população negra do Brasil. Na faixa de 10 a 64 anos, por exemplo, a taxa de morte por transtornos mentais, doenças infecciosas e relacionadas à gravidez e ao parto é, em média, o dobro da entre os brancos, diferença que se repete, ainda que em menor grau, em 14 das 16 causas de mortes analisadas.
Coordenadora do estudo Saúde na População Negra no Brasil: Contribuição para a Promoção da Eqüidade, que será publicado até o fim do ano, Fernanda Lopes destaca que os dados demonstram a necessidade de políticas especiais para negros e pardos no País. "Assim como a população adulta, as crianças pretas, com mais de 28 dias, morrem mais que as brancas. E isso ocorre por causa de condições de vida precárias e de uma assistência à saúde deficiente. Resultado: a expectativa de vida é cerca de seis anos menor do que a entre os brancos. Precisamos de programas que diminuam essas desigualdades entre raças."
No caso dos óbitos por transtornos mentais, diz, o fato de alcoolismo e droga afetarem mais negros e pardos é indicativo da falta de expectativa gerada por desigualdades socioeconômicas e preconceito. "Enquanto entre os brancos o transtorno mais comum é a demência, ou seja, algo fisiológico, entre os pretos são doenças decorrentes do stress cotidiano e da falta de esperança." A cada 100 mil mortes entre brancos, 3,04 são por transtornos mentais, número passa a 6,43 entre negros.
Já a taxa de mortes por doenças infecciosas na população adulta, que é de 17,14 por 100 mil entre os brancos, chega a 30,58 entre os negros. Se considerada a infecção por HIV, os números vão para 15,64 ante 23,13 entre os homens. Para o sexo feminino, a diferença é ainda maior: 5,45 para brancas e 12,29 para negras. "Isso sinaliza uma dificuldade de acesso, um tratamento tardio."
A população negra é também a principal vítima das mortes por causas externas: 16% entre brancos e 25,6% entre negros. Desagregando os dados, os homicídios somam 48% das mortes entre negros, ante 34,4% entre brancos, proporção que é, respectivamente, de 32% e 21,9% se consideradas as por armas de fogo.
PARTO PREMATURO
A filha da dona de casa Lucia Helena dos Santos, de 37 anos, negra, tem problemas de pressão, mas, segundo a mãe, isso não foi identificado no pré-natal feito num posto de saúde. "Ela passou mal, foi levada para o hospital e lá anteciparam o parto em um mês, por causa da pressão alta. Ela poderia ter eclâmpsia. Isso aconteceu porque o atendimento foi precário", contou Lúcia, que ontem aguardava a saída da filha no Hospital Souza Aguiar, no centro. Segundo ela, existe, sim, preconceito no atendimento aos negros. "Não é sempre, mas acontece."
Além de reunir dados sobre a saúde da população negra, a publicação traz recomendações para reduzir as desigualdades raciais na área, como o levantamento sistemático de estatísticas. Um das ações do Ministério da Saúde foi a criação, no fim de 2003, do Comitê Técnico de Saúde da População Negra, que atua em toda a pasta para buscar meios de incluir o grupo racial nas ações federais. Outra ação do ministério, destacou, foi o investimento de R$ 12 milhões em saneamento nas comunidades remanescentes de quilombos.

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